O Centro Histórico de Diamantina, tão perfeitamente integrado à paisagem severa e grandiosa, é um exemplo
da mescla de aventureirismo e refinamento, ocorrido nas Américas. Com um valioso acervo de construções do período colonial, o conjunto arquitetônico,
urbanístico e paisagístico da cidade foi tombado, em 1938, pelo IPHAN. Em 1999, a Unesco concedeu a Diamantina o título de Patrimônio Cultural Mundial.
Além dos monumentos significativos para a história da arte e arquitetura dos séculos XVII, XVIII e XIX, a cidade guarda em três obras de Oscar Niemeyer – a marca do século XX.
Situada no nordeste do Estado de Minas Gerais, Diamantina é um precioso testemunho da conquista do interior do Brasil e demonstra como – no século XVIII –
os desbravadores do território brasileiro, os aventureiros do diamante e os representantes da Coroa Portuguesa souberam adaptar os modelos europeus a uma realidade americana,
criando uma cultura original. O seu patrimônio tombado combina engenhosidade e capacidade de adaptação aos trópicos, e forma um precioso testemunho da ocupação do interior do Brasil.
A implantação da cidade sobre uma encosta rochosa cuja variação de altitude alcança até 150 metros de diferença, combina-se com a reprodução do programa
português para suas cidades originárias do ciclo da mineração, durante o século XVIII. Em Minas Gerais, esse modelo determinou uma configuração original e de
rara beleza. Dotado de excepcional riqueza por sua composição com a Serra dos Cristais, o centro forma um dos conjuntos paisagísticos mais significativos de Minas.
O traçado urbano e o padrão arquitetônico da cidade – moldado na encosta do lado oposto da serra – apresenta uma expressiva composição de cultura e natureza.
A importância histórica da Serra dos Cristais na formação da cidade advém do fato de ter sido um dos primeiros pontos de organização do povoado, e uma das vias
iniciais de acesso ao núcleo urbano, que formam o emolduramento da área protegida pelo IPHAN.
A arquitetura civil apresenta extrema homogeneidade em seu casario, possui uma estética sóbria, simples, porém refinada se comparada com outras cidades de sua época.
As edificações apresentam – como na música e em diversas artes – evidentes testemunhos da reprodução do modelo cultural de origem portuguesa. A arquitetura distingue-se
pelo despojamento da composição e dos materiais construtivos, enquanto as características do território e o isolamento vivido pela cidade são responsáveis pela pureza da
concepção arquitetônica, quando comparada ao restante do patrimônio setecentista mineiro.
O conjunto tombado encontra-se bastante íntegro, sendo possível reconhecer na atual malha urbana o núcleo de povoamento do século XVIII. Seu valioso acervo de construções
do período colonial possui características singulares e representativas de um núcleo colonial português. Mesmo construída em um território de diamantes, dentro do complexo
geográfico da Serra do Espinhaço, isto não alterou a disposição do colonizador em reproduzir seus hábitos culturais de origem.
O centro urbano de Diamantina possui a configuração característica das cidades do período colonial, e os caminhos estreitos e sinuosos se organizavam de acordo com as
condições topográficas mais favoráveis, sem intenção de ordenação geométrica. Onde houve o alargamento das vias e largos, os espaços mais abertos deram maior destaque às
edificações. Esta configuração urbana se formou entre 1720 e 1750, e se consolidou em meados do século XIX (este arruamento principal permanece preservado).
A arquitetura religiosa dos séculos XVIII e XIX, apresenta características excepcionais e na decoração interna estão pinturas com aplicação de ouro. A arquitetura civil
da cidade é uma referência especial com ausência de casas térreas e destaque para os conjuntos de sobrados. Do conjunto urbano, sobressai-se o Passadiço da Glória
(ligação entre dois sobrados dos séculos XVIII e XIX). Edifícios com paredes brancas e detalhes coloridos, muxarabis, balcões com pinhas de vidro, rótulas treliçadas e
pavimento em lajes de pedra compõem a imagem urbana de Diamantina.
Destaca-se, também, o casario colonial de inspiração barroca e as edificações históricas, como a Casa de Chica da Silva, a bela paisagem natural e as igrejas seculares,
e uma forte tradição folclórica e musical, além da religiosidade. A cidade era um intenso centro religioso, datando do século XVII, a construção da Matriz de Nossa Senhora
da Conceição, Capela de Nossa Senhora da Soledade e Igreja da Nossa Senhora D’Ajuda.
História – A formação da cidade se deu com a descoberta e exploração do ouro no vale do córrego do Tijuco, pela bandeira liderada por Jerônimo Gouveia. Os bandeirantes
partiram do Serro, acompanharam o curso do rio Jequitinhonha até atingir a confluência dos rios Pururuca (em tupi-guarani, “cascalho grosso”) e Grande, onde acamparam,
em 1691. Entretanto, não existia, naquele sítio, abundância de ouro, como a princípio se pensava.
As origens do famoso Arraial do Tijuco (ou Tejuco) – como era chamada Diamantina – remontam a 1713, com a atividade dos bandeirantes que permaneceram na região. Nesse local,
denominado Burgalhau (atual Rua do Burgalhau, Rua do Espírito Santo e Beco das Beatas), se fixaram os primeiros povoadores. O fracasso inicial ameaçava o desenvolvimento da povoação,
quando os diamantes foram descobertos, em 1720, por Bernardo da Fonseca Lobo. Os diamantes fizeram convergir, para as áreas do Tijuco, a ambição dos habitantes das terras vizinhas,
transformando o arraial em lugar de esplendor e grande luxo.
Pequenos arraiais espalhados ao longo dos cursos d’água, em direção ao núcleo administrativo do Tijuco, levaram à formação do conjunto urbano com suas primeiras vias. Entretanto,
entre 1731 e 1738, Portugal resolveu implantar o regime de contratos para a extração de diamantes, o que provocou conflitos entre garimpeiros, escravos e os representantes do governador das Minas,
D. Lourenço de Almeida.
O resultado da decisão de Portugal para controlar a exploração dessas riquezas foi a criação de uma condição administrativa especial para garantir a hegemonia da Coroa Portuguesa na mineração.
Isto se refletiu na evolução da cidade, desfavorecendo a formação de um espaço urbano arquitetônico na forma de uma praça representativa do poder político e religioso, como era então regra geral nas outras cidades mineiras.
O Tijuco cresceu em ritmo acelerado e se desenvolveu especialmente na época dos contratadores de diamantes Felisberto Brant (1748‐1751) e João Fernandes de Oliveira (1759‐1771), figura lendária na história do município devido
ao seu romance com a célebre Chica da Silva. Foram estimuladas as construções, o comércio floresceu, surgiram as primeiras igrejas, e o arraial conheceu tempos de grande prosperidade.
Os garimpeiros, todavia, viveram dias de grande opressão durante o regime dos contratos: o poder dos contratadores era tão grande que os transformava em verdadeiros carrascos
na execução das ordens da Coroa Portuguesa. É desta época o célebre Livro da Capa Verde, código que controlava os atos da população em vários aspectos. Os intendentes cumpriam
fielmente os artigos despóticos do livro. Depois de luta incansável, os tijucanos conseguiram, em 1821, a reforma do código para diminuir o poder dos intendentes.
No início do século XIX, o arraial rivalizava em tamanho com Vila Rica (atual Ouro Preto), a então capital de Minas Gerais. Em 1819, o Arraial do Tijuco passou a
Freguesia de Santo Antônio. Na década de 1820, recebeu ilustres visitantes internacionais: Spix, Von Martius, Saint-Hilaire, Eschwege, John Mawe, dentre outros.
A partir de 1828, a povoação viveu novo período em seu desenvolvimento, com a organização da sociedade, o interesse pela cultura e, em consequência, se tornou um dos
arraiais mais importantes da época. Em 1831, o Tijuco foi elevado à categoria de vila, com o nome de Diamantina e, em 1838, à cidade com o mesmo nome.
No final do século XIX, a Serra dos Cristais foi uma importante área de lazer da comunidade e, atualmente, a plataforma onde se localiza o cruzeiro luminoso
(com a Igreja de Nossa Senhora Aparecida) e a Praça Jardim da Serra (com sua antiga via de calçamento de pedra) forma um importante ponto turístico pela vista
privilegiada que oferece da cidade, especialmente da área tombada. O cultivo do teatro, da música e das artes em geral tornou-se característica marcante da sociedade local.
O arraial ficou conhecido, pela exploração de diamantes e a enorme quantidade de pedras que eram extraídas da localidade, tornando-se a maior lavra de diamantes do mundo ocidental,
no século XVIII. Tanta riqueza deu origem a uma aristocracia opulenta e uma das mais requintadas do período colonial mineiro, que ergueu um rico patrimônio arquitetônico. Tornou-se lendária
na imaginação popular por ter abrigado o romance entre o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira e a escrava liberta Chica da Silva. É também a terra de Juscelino Kubistchek,
Presidente da República e idealizador de Brasília, nos anos 1950.
Suas festividades religiosas e populares são atração para os que visitam a cidade, além da arte da tapeçaria, trazida à região pelos portugueses no século XVII, com influências hispano-mouriscas,
indianas e renascentistas, transformando-a em uma tradição local com a confecção dos conhecidos tapetes arraiolos. Devido à estreita ligação que Diamantina sempre teve com as pedras preciosas,
os artesãos de Diamantina se tornaram mestres nos trabalhos de ourivesaria e lapidação. Atualmente, as atividades de mineração ainda constituem a base de sua economia.
Monumentos e espaços públicos tombados: Mercado Velho, Sobrado do Intendente, Museu do Diamante, Cadeia Velha, Praça Juscelino Kubitschek, Praça Barão de Guaicuí,
Praça Monsenhor Neves, Rua Antônio Pádua Oliveira, Rua Campos de Carvalho, Rua da Quitanda, Beco da Tecla, Beco da Pena, Beco do Mota e Beco do Alecrim, Intendência
(atual Museu do Diamante), Casa do Contrato, Mercado Municipal, Igreja São Francisco, Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Capela de Nossa Senhora da Soledade,
Igreja da Nossa Senhora D’Ajuda, Igreja Nossa Sra. das Mercês, Igreja Nossa Sra. do Amparo, Casa do Forro Pintado, Biblioteca Antônio Torres, e os prédios projetados
pelo arquiteto Oscar Niemeyer: Hotel Tijuco, Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina, Escola Estadual Professora Júlia Kubistchek e Diamantina Tênis Clube, entre outros.
Fonte Iphan: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=C8A07C68C0AB14EAB447EEA1E7BCAEF1?id=18094&retorno=paginaIphan